Uma situação cada vez mais frequente é o diagnóstico incidental de nódulos hepáticos (do fígado) em exames de imagem (ultrassonografia, tomografia e ressonância) que foram realizados por rotina ou para investigação de alguma outra condição. Situação esta que gera grande preocupação e ansiedade nos pacientes.
Esse aumento de incidência se deve, entre outras causas, pelo maior número na realização desses exames, que são amplamente disponíveis atualmente, mesmo no âmbito do serviço de saúde público.
Diante do diagnóstico de nódulo hepático é fundamental a avaliação apropriada já que 10% desses nódulos são malignos (cancerígenos). Além disso, mesmo nódulos benignos, na dependência do tipo, podem requerer acompanhamento e/ou ressecção cirúrgica.
Dentre os nódulos malignos, 80% são metástases, ou seja, lesões secundárias de um câncer originado em outro órgão, o que indica doença disseminada. Isso acontece pois o fígado é fonte de drenagem de diversos órgãos do aparelho digestivo, por exemplo, o intestino grosso (o mais comum), estômago, esôfago, pâncreas e vesícula. Os outros 20% são cânceres primários do fígado, que ocorrem quase exclusivamente em pacientes com cirrose, seja de causa alcoólica, viral (hepatite) ou por esteatose hepática (gordura no fígado – causa cada vez mais frequente).
Já em relação aos nódulos benignos do fígado, há basicamente quatro tipos: o hemangioma, a hiperplasia nodular focal, o adenoma e a infiltração gordurosa.
O hemangioma é a lesão mais frequente, responsável por quase 70% dos nódulos benignos e juntamente com a Hiperplasia Nodular Focal (representa 10%), não necessitam de acompanhamento nem cirurgia já que usualmente não causam sintomas, sangramento ou degeneração maligna (transformação em câncer).
O adenoma corresponde à 6% dos nódulos benignos do fígado e quando é maior que 5 cm, apresenta risco aumentado de ruptura, podendo levar a sangramento importante, assim como risco de transformação maligna. Por estes motivos, nódulos pequenos necessitam de exames seriados para avaliação do seu crescimento e nódulos maiores que 5 cm precisam da remoção cirúrgica. A ressalva se faz nas usuárias de anticoncepcional porque a suspensão deste pode ocasionar regressão no tamanho da lesão, muitas vezes evitando a cirurgia. Outra exceção são os adenomas em homens, que sempre devem ser extirpados, independentemente do tamanho, devido ao percentual de malignização ser muito maior.
A infiltração gordurosa ou esteatose focal, nada mais é do que áreas delimitadas do fígado que apresentam maior acúmulo de gordura, dando a impressão radiológica de um nódulo. Não necessitam de tratamento e podem desaparecer com o emagrecimento.
Para a definição de qual tipo de nódulo o paciente tem, deve-se realizar uma ressonância magnética, que é o melhor exame para este fim, mas em algumas circunstâncias a tomografia pode já fazer o diagnóstico. O ultrassom serve para rastreio de lesões e acompanhamento do tamanho, pois é inócuo, não utiliza contraste e não tem radiação.
A biópsia é desnecessária na quase totalidade dos casos e pode ainda levar a complicações como sangramento do nódulo e disseminação em caso de malignidade.
Se houver a necessidade de ressecção do nódulo, a cirurgia por vídeo é a mais indicada, por proporcionar recuperação mais rápida e menor taxa de complicações. Em caso de nódulos gigantes ou em posição desfavorável no fígado, a cirurgia aberta pode ser imposta.
Texto _ Dr. Bruno Hafemann Moser